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Três da manhã

  • Foto do escritor: Vitor Araujo
    Vitor Araujo
  • 4 de jul. de 2023
  • 1 min de leitura

Três da manhã. Acordado. Na mouche. O meu gato julga ser uma boa hora, para dar banho a si próprio. Confundo o lamber da sua áspera e eficiente língua a alisar o pêlo, com pequenos passos... os de um qualquer fantasma perdido. Provavelmente o mesmo que atormenta o Paulo, o sem abrigo e que o faz gritar de quando em vez a meio da noite, qual condenado a quem arrancam os dentes um a um. As cervejas que compra no hiper, praticamente ao lado de minha casa e do canteiro onde dorme, essa grande superfície disfarçada de mercearia de bairro, não chegam para afundar todas as suas mágoas, loucuras e receios. Sinceramente, preferia vê-lo como empregado do mês da mercearia de bairro disfarçada a vender-me simpaticamente fruta de estufa, do que assim, vadio e sujo, a cravar moedas para a bebida, porque o tabaco, esse nasce-lhe do chão, em forma de cigarros ardidos pela metade. Calaram-se... o Paulo, o meu gato e o fantasma. Adormeceram ou apenas sossegaram. E eu, continuo acordado, às voltas com as minhas mágoas, loucuras e receios, ainda a pensar, já meio grogue de sono, na melhor forma de velar por todos eles.



 
 
 

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