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Perdidamente

  • Foto do escritor: Vitor Araujo
    Vitor Araujo
  • 29 de abr. de 2023
  • 2 min de leitura

Tentei depois, adivinhar-lhe o futuro. Pareceu-me incerto e cheio de sombras. Quando lhe disse que não tinha dinheiro, o que até era verdade, pois nao tinha no momento comigo qualquer nota ou moeda, assentiu ligeiramente com a cabeça, como que a desculpar-me essa "falha". Mas, estou certo de que naquela fração de segundos, foi a percepção que teve da minha aparente perplexidade ao ver que era uma jovem bem vestida e de ar lavado quem me abordava, que a terá feito desistir de insistir na súplica pungente de pedir novamente a moedinha habitual. Ela leu o que eu mesmo li, naquele instante. A estranheza que me assaltou aquele esmolar, por parte de alguém que aparentemente teria todas as condições para ter uma vida ativa, feliz q. b. e uma mais que possível independência financeira... um sinal alarmante, de que algo no seu trajeto de vida, nao estaria a correr como seria normal e desejável. Quantas vezes já ouvimos histórias destas? Vezes demais. O que virá a seguir? Ela, que até andava, quando se cruzou comigo, ainda pelos lados da rotunda da Boavista, na zona mais ou menos chique, não tardará muito a ir um pouco mais longe, transformando-se num ser vago a correr sem vontade própria e sem sentido, entre a zona da Pasteleira e a rua do Campo Alegre, depois de já ter deixado de pedir com boas maneiras a moedinha e depois de ter-se vendido e revendido vezes sem conta para alimentar o vício, restando apenas uma espécie de fantasma de si mesma. Enfim, pode ser que seja somente a minha mente a deambular pelas tristes, mas infelizmente reais desvirtudes do ser humano. Tomara mesmo que seja só isso, neste caso e em muitos outros... uma fantasia perversa ou uma ideia maluca, no meio de tantos trágicos e tristes destinos, já tantas vezes vistos e revistos.




 
 
 

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